Tédio

  O que é que uma rapariga pode fazer quando o seu verão está completamente condenado a puro tédio? Faltava pouco tempo para o final das aulas e tudo o que eu mais queria eram as fantásticas noites quentes de verão, as gargalhadas, os finais de tarde que abriam as noites de magia, o próprio cheiro do verão, que consegue ser tão especial e permanecer na minha cabeça o ano todo. Como eu sou especialmente perita em alhadas consegui estragar tudo isso e agora estou aqui, no meu 13º dia de aborrecimento. 

   Limpei as estantes e uma tonelada de papel se foi; aumentei o meu nível de miopia ao passar dia e noite em frente ao computador; engordei uns 5kg porque quando não tenho nada para fazer torna-se instintivamente e compulsivamente o meu passatempo preferido; arrumei os meus sapatos e separei os calções das saias, doei  os meus antigos brinquedos, organizei as minhas roupas e construí novos conjuntos, giríssimos devo dizer. Mas foi ai que me apercebi que apesar de ter a alta costura toda guardada no meu closet, isso não me serve de muito, nem sequer me faz sentir melhor, na verdade até me faz sentir mais em baixo: eu não tenho onde os usar, e isso é um facto.
  Deu-se uma limpeza geral na minha vida e esqueceram-se de me avisar. Sem amigas e sem namorado. A única coisa que me resta é um orgulho ferido que não vai sarar, um ex-namorado que eu já não amo e um amigo colorido que já não trás assim tanta cor aos meus dias. Então eu pergunto-me a mim mesma, o que é que se segue? Está tudo a zeros e as minhas inseguranças nem me deixam sair de casa.

  Eu não sei o que é ser a mais bonita, nem tenho o sorriso mais lindo do mundo. Eu não uso perfume e mesmo depois de perder uma hora a fazer os penteados mais mirabolantes acabo por sair de cabelo solto, ou seja, eu não saio de casa sem me sentir bem, eu tento ser diferente, mas acabo por ser completamente igual, todos os dias. Eu não entendo matemática e não acho que a minha capacidade de raciocínio seja muito elevada. E eu vivo com medo do que os outros vão pensar de mim, principalmente aqueles que eu amo, porque eu gosto de agradar aos outros, invés de tentar agradar-me a mim. Quando se é trocada e abandonada com frequência a nossa auto-estima torna-se minúscula, e isso é horrível, creio que é a pior coisa que pode haver. E impede-nos de fazer tanta coisa! Impede-nos de sermos alguém, não aos olhos dos outros, mas aos nossos próprios olhos. 

  Foi no meio dos momentos excessivos de reflexão que tive durante os últimos dias que decidi que não tinha muito a perder, e aventurei-me pelas redes sociais em busca do meu rapaz de sonho, com todos os requisitos da minha lista. Eu nunca fui do género de ir atrás, mas se essas vadias todas conseguem mesmo sendo fáceis, porque que nós, as raparigas difíceis, que têm realmente algo para dar não podem conseguir também? Insegurança outra vez. Nós achamos sempre que deve ser o rapaz a lutar pela rapariga e a dar o primeiro passo, caso contrário nunca nos irão dar valor. Não tem necessariamente de ser assim, nós é que colocamos a fasquia muito alta logo a partida, e muitas vezes apostamos no alvo errado. Corremos atrás do rapaz mais bonito do colégio, ou da equipa de futebol, outras vezes somos influenciadas pela opinião das amigas. Ficamos com a ideia de que o nosso namorado tem de ser lindo e de fazer inveja, porque se for feio vamos ser gozadas por elas. Não deveria ser assim, mas é verdade, todas aquelas conversas de raparigas que aparentemente não parecem ser sérias, na realidade são muito sérias, todas querem um Taylor Lautner ou um Zac Efron, até a minha mãe gostava de ter um Jude Law! Mas o rapaz que nos vai fazer realmente feliz, não vai ser o mais bonito ou o mais robusto, e sim aquele que te faz sentir a rapariga mais bonita do mundo, vai deixar as tuas bochechas a doer de tanto sorrires. E foi esse rapaz que eu fui a procura, e assim surgiu o prince charming na minha vida. 

Ps: Continuo fechada em casa. 

Ps2: A minha missão para este verão é refazer a minha vida, vou trabalhar nisso... amanhã! Pinky promise!

Broken Angel